terça-feira, 30 de agosto de 2011

A figura mítica do orientador

Cotidiano é tudo aquilo que fica entre lamentar o começo de uma segunda e comemorar a chegada da sexta. Se a gente colocar a monografia como algo presente em nosso cotidiano, poderemos considerar a segunda-feira o seu orientador, ou seja, algo chato pra caralho, mas que você terá que entubar. 

Ele é uma figura mítica, oriunda dos contos da Terra Média, que foi para a sua faculdade apenas para te infernizar. O problema é que se você não fez faculdade em Harvard, Stanford, Princeton e Cambridge (não necessariamente nesta ordem), você ficou mais ocioso na faculdade do que o Neguinho da Beija-Flor durante o ano. Logo, na primeira reunião com ele você toma um susto tão grande por conta do fluxo de informações. Na verdade, a sensação é uma mescla da primeira vez que você foi a uma entrevista com a primeira vez que você levou um toco.

Você já começa tenso, tentando explicar o tema. Gagueja tanto que ele começa a achar que você foi ali para fazer uma imitação do David Brasil. Mas, então, você finaliza e começam as porradas.

Ele pega seu projeto das suas mãos, dá uma olhada bem da safada e começa a canetar TODAS AS FOLHAS. Juro para vocês, ele estava rabiscando tanto meu projeto que, se ele tivesse um uniforme, eu ia entregar minha carteira de motorista e falar "só não fala pro meu velho que vocês tão levando o Fusca dele?".

Aí ele manda afunilar o tema (de novo). Começa a dizer que você tem 22 anos, que já deveria saber como faz isso e tal. Cita até que Alexandre, o Grande, nesta idade, tinha conquistado 2/3 do mundo conhecido até então. Amigo, mundo conhecido, só o Google Maps mostra. Do contrário, ele deve ter assentado uns 3 hectares improdutivos no melhor estilo MST e dito à população que aquilo era de todos.




"Minha tese de doutorado foi sobre crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Falei sobre futebol e mulher, duas coisas que entendo pra caralho" - ORIENTADOR, Meu.






Se estivéssemos num eterno looping de 2005, certamente meu orientador seria uma espécie de "Homem Orkut". O cara foda que bebe, fuma, joga, aperta a campainha e sai correndo. É daqueles que grita no bar “caiu um lenço” quando alguém derruba um copo e não deixa escapar a clássica “senta na ponta, paga a conta”. Tem um Chevette. Tunado. Coberto de adesivos ameaçadores que vão de “É podre, mas se arrumar fica massa” a “Ultrapassando a sua inveja”.

Exibicionista nato, estende seu salário em notas de 100 sobre a cama. Todas as quatro, pois o salário de professor titular não anda lá essas coisas. Tem mais correntes que um estaleiro, e bate fotos com todas as beldades da festa enganando-se a si mesmo com a legenda “peguei”. Banho de piscina só nas de plástico e viagens só em excursão para Aparecida. Não perde uma festa nem um torra-torra na loja de informática. Tá sempre ligado nos lançamentos da indústria do entretenimento e da contravenção: jogo de Playstation a 3 por 10 no camelô é toda semana. Estilos musicais preferidos: é eclético. Depois que aprendeu a dizer essa palavra, é só o que responde.

No fundo, orientador não é tudo igual. Só são todos previsíveis. Talvez até o final do semestre desista do Jornalismo e comece a vender ideias toscas para o mundo dos games, como sugerir o Anderson Silva como próximo jogador do Mortal Kombat ou Tekken. 


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